Lição 1 - Propriedades do Som/ Segurando as Baquetas
Lição 1
CONCEITOS TEÓRICOS
Fundamentos do Som
Os sons fazem parte da nossa vida. Um trovão, o canto de um pássaro, um assovio ou uma música tocada por um grupo são efeitos sonoros. É comum dizermos que som é aquilo que podemos ouvir.
Podemos dizer, em linhas gerais, que som é o movimento de ar quando ele se processa na forma de ondas, pela vibração de partículas.
Essas ondas sonoras vibram em ciclos, também chamados de frequências, que são medidas pela quantidade de vibrações por segundo. Essa medida leva o nome de Hertz e é representada pela abreviação Hz. Por exemplo: 1Hz = 1 vibração por segundo.1
A acústica é a ciência que estuda o som.
As propriedades, ou os parâmetros, do som são os seguintes:
A duração: é o tempo de produção do som. Os sons podem ser longos ou curtos;
A intensidade: Os sons podem ser fracos ou fortes;
A altura: Os sons podem variar do grave ao agudo;
O timbre: É a característica especial de cada som. O timbre é o que nos permite reconhecer a sua origem.2 Pelo timbre podemos dizer se o som vem de um violão ou da voz humana.
Saiba mais sobre os parâmetros do som.
Vídeo do canal Nexo do Saber
Confira!
Mas para que o ouvido humano seja capaz de ouvir ou perceber um som, as propriedades acima descritas precisam estar combinadas. Por exemplo:
A duração não deve ser excessivamente curta.
A intensidade não deve ser excessivamente fraca.3
A altura deve estar na faixa entre 20 vibrações por segundo (ou 20 Hertz) até 20.000 vibrações por segundo (20.000 Hz). Quanto menos vibrações, mais grave é o som; quanto mais vibrações, mais agudo.
O fato é que frequências abaixo de 20 Hz ou acima de 20.000 Hz (20KHz) não são sequer percebidas por nós e seriam, do ponto de vista da percepção humana, igual ao silêncio.4
Teste de Audição
O vídeo abaixo apresenta a variação das frequências de 20Hz a 20.000Hz.
Use fones, mas cuidado com o nível de volume.
Faça o teste para saber quais frequências você consegue perceber.
Vídeo do canal Vinheteiro
Os fundamentos do som vistos até aqui estão presentes naqueles sons que podemos ouvir. E embora nem todos os sons são originalmente música, todos os sons podem ser usados musicalmente.
A Música é arte de combinar os sons simultânea e sucessivamente, com ordem, equilíbrio e proporção dentro do tempo.5
Os elementos fundamentais da música são:
Melodia: A combinação de sons sucessivos; um após o outro.
Harmonia: A combinação de sons simultâneos; executados ao mesmo tempo.
Ritmo: A organização dos sons de acordo com a sua duração.
Estes elementos são os mais básicos e seguem uma definição clássica da música. Outros elementos que podemos adicionar são por exemplo: Som e Silêncio, Contraste e Repetição, Pulsação, Andamento, Métrica, Textura e Densidade.6
Pulso, Tempo e Metrônomo
Assim como nós sentimos nosso coração bater de forma regular, nós geralmente sentimos uma batida ou pulso regular na música. A pulsação é o que nos dá a sensação de estabilidade na música, é a característica que nos permite identificar o tempo.
O pulso é a regularidade de um intervalo fixo de tempo. O tempo é a velocidade do pulso.7
Quando vemos um baterista contar tocando baqueta contra baqueta antes da entrada da banda, ele está dando ao grupo a referência de pulsação e, a partir de então, podemos definir o tempo para aquela música.
O tempo é medido pelo número de batidas por minuto (bpm). Por exemplo, um minuto tem 60 segundos. Então em um minuto podemos dizer que temos 60 batidas, ou seja, 60 bpm. Veremos mais sobre esse assunto na Lição 11.
Mas assim como a nossa pulsação (a nossa frequência cardíaca) pode sofrer alterações dependendo do esforço, do cansaço, nível de estresse, atividade física entre outros, se em um grupo, ou mesmo nos estudos individuais, cada um usar a sua referência de pulsação, teríamos uma situação caótica.
Quando estudamos devemos utilizar um aparelho que nos auxilia na manutenção do pulso: o metrônomo.
O metrônomo serve para determinar o andamento, marcando regularmente a duração dos tempos.
Por James F. Perry - Obra do próprio, CC BY-SA 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=215335 |
Originalmente é um aparelho de relojoaria (à direita na imagem) colocado em uma caixa de madeira com um pêndulo. Conforme a colocação do peso do pêndulo as batidas são mais lentas (peso em cima) ou mais rápidas (peso embaixo). Hoje temos aparelhos digitais (à esquerda na imagem) que funcionam a pilha ou bateria, e muitos aplicativos para smartphones, em todas as plataformas, que facilitam o acesso para todos.
Nosso amigo número um ao longo dos exercícios será o metrônomo.
Também podemos usar uma música que gostamos para que tenhamos uma referência estável de tempo.
Uma das principais responsabilidades do percussionista é proporcionar um andamento estável!
Segurando as Baquetas
https://is.gd/thz5rk |
As baquetas
Nós usaremos bastões de madeira que chamamos de Baqueta. As baquetas de caixa podem ter diversos modelos que variam em relação ao tipo de madeira, ao comprimento, a espessura, ao formato e o material da ponta. De uma lista de referências padrão, e como exemplo geral, temos as baquetas 2B e 5B como mais pesadas, e 5A e 7A como mais leves.
Mas essa lista possui mais variações dependendo para o tipo de sonoridade desejada. Existem também diversos fabricantes nacionais e estrangeiros que produzem baquetas com boa qualidade.
Use
a baqueta que você pode comprar! Mas escolha com cuidado.
Devemos usar baquetas com a mesma característica de tamanho, de peso, tipo de madeira e formato de ponta. Esses detalhes influenciam diretamente no som. Certifique-se do equilíbrio entre elas e confira se não estão empenadas ou com defeitos de fabricação.
Para certificar-se se as baquetas não estão empenadas faça o teste:
Em um superfície plana, role a baqueta. Se perceber saltos na trajetória, a baqueta está danificada.
No vídeo:
O tipo de baqueta que usaremos para caixa
A pegada semelhante8 e mais.
Confira!
TÉCNICA
"Eu
ensino habilidades fundamentais porque não existem habilidades
avançadas, mas apenas situações avançadas que exigem fundamentos
sólidos." Kevin Donka
Técnica é a sistematização de processos de uma arte, ofício ou ciência. Um conjunto de técnicas facilitam o trabalho para um determinado fim. Em percussão, a técnica passa pelo controle muscular e sonoro. Muitos instrumentistas ficam obcecados pela técnica perfeita, mas vale lembrar: a técnica precisa estar a serviço da música. Nas primeiras lições aprenderemos fundamentos da técnica com baquetas, e a princípio podemos ter a impressão de ser algo muito sistematizado e carente de organicidade. Mas fundamentos bem estruturados nos permitirão obter resultados melhores, com mais rapidez depois de um tempo, e o principal, com uma boa sonoridade.
Rudimentos
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, Rudimentos “são as primeiras noções de uma ciência ou arte”.9 Ou seja, é a mais básica informação sobre algo. Em percussão, os rudimentos formam um conjunto de células rítmicas baseados em diferentes combinações de toques simples (um toque para cada movimento) e toques duplos (dois toques para cada movimento). E que quando eram colocados em sequência, formavam inicialmente frases para a comunicação no campo de batalha e solos rudimentares (baseados no uso de rudimentos).10
Veremos mais a frente que muitos rudimentos tem padrões específicos de baqueteamento, e que a sua nomenclatura deriva de onomatopeias. Ou seja são baseados na transmissão oral do ritmo.
O termo Baqueteamento
(Sticking pattern) se refere a ordem das mãos e tipos de toques que usaremos nos
exercícios. O termo manulação
também pode ser encontrado em livros e métodos.
Os rudimentos são para os
percussionistas como escalas para os instrumentos de sopro por
exemplo. E assim como no caso das escalas, os rudimentos não fazem música sozinhos. São
blocos simples e organizados com combinações de baqueteamentos que
nos dão destreza mecânica em nossos instrumentos. Há uma tabela
que identifica um número determinado de rudimentos. Mas basicamente,
podemos iniciar o estudo de rudimentos com cinco toques básicos que
são como as letras e todos os outros rudimentos são as palavras.
São eles:
Os toques com rebote (full strokes), rebotes controlados (down strokes), taps que são toques com dinâmica baixa, ups que são toques de preparação e o toque múltiplo (múltiplos toques com um movimento de punho).11
Dominando
esses cinco toques básicos poderemos tocar qualquer coisa,
bastando para isso aprender os baqueteamentos de cada rudimento.
Falaremos sobre cada um com calma ao longo das próximas lições.
Os rebotes a que nos referimos tem a ver com a reação que a superfície tem ao ser golpeada com a baqueta. A pele da caixa ou praticável, devido a tensão aplicada, reage naturalmente devolvendo a baqueta ao ponto de origem. Podemos comparar com o rebote de uma bola de basquete ao ser jogada ao chão. Ela irá quicar naturalmente e o rebote irá diminuir gradualmente até parar. Os toques que vamos aprender nos ajudarão no controle das baquetas para o uso natural dos movimentos.
No vídeo:
A demonstração do Full Stroke (toque completo);
Os exercícios de controle das baquetas usando o toque completo.
O símbolo que usaremos para indicar o Full Stroke será o de duas setas, uma descendo e outra subindo.12
Vamos
Tocar!
Na Caixa 🥁
Vimos no vídeo o exemplo dos exercícios tocados em sequência. Mas antes de tocá-los um após o outro, cada exercício deve ser estudado separadamente, uma mão de cada vez e lentamente. O foco no momento é o movimento correto e não a velocidade.
Dica: As setas indicam o sentido do movimento e ao mesmo tempo contamos o número de tempos 1, 2, 3, 4
Lembre-se que a sensação é a de quicar várias vezes seguidas uma bola. Sem forçar, só rebote.
Concentre-se na ponta da baqueta: desce e sobe em um só movimento.
Ex. 1
Ex. 2
Ex. 3
Ex. 4
Ex. 5
Podemos fazer o mesmo exercício com as duas mãos tocando simultaneamente. Chamamos de toque paralelo13 e o objetivo é que utilizando as duas mãos juntas, tenhamos apenas um som.
A letra D indica a mão direita e a letra E mão esquerda. As duas mãos tocarão juntas e seguimos contando os tempos em voz alta. O objetivo é que tenhamos um som.
Ex. 6
Agora é com Você! 😉
Quais outras combinações de baqueteamentos você consegue fazer usando o Full Stroke (Toque Completo)?
Página Inicial
Lição 2
Referências
1, 4 - FIGUEIREDO, Afonso Claudio. Técnicas de Gravação e Mixagem. Apostila 2: Fundamentos do Som.
2 - LACERDA, Osvaldo. Compendio de Teoria Elementar da Música. 4ª edição. São Paulo: Musicália S/A, 1967.
3 - COTRIM, Gilberto Vieira. TDEM-2: Trabalho dirigido de educação musical. 11ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 1999. 1º grau, 2º volume.
5 - MED, Bohumil. Teoria da Música: Vade Mecum de teoria musical. 5ª edição. Brasília, DF: Musimed, 2017.
6 - NEDER, Álvaro. Elementos Básicos da Música. Apostila e Aulas. Graduação Tecnológica em Produção Cultural. Instituto Federal de Ciência e Tecnologia, Campus Nilópolis, 2010.
7 - SOARES, Silvia Helena Zambonini. O Pulo do Gato: Proposta de estudos para a iniciação coletiva através da percussão. 2016. Apostila (PROEMUS). Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
8 – ROCCA, Edgar Nunes. Método Completo de Bateria. Rio de Janeiro: Escola Brasileira de Música, 1986. Volume 2
9 - NASCENTES, Antenor. Dicionário da Lingua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras/ Elaborado por Antenor Nascentes. Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1988.
10 - GALM, John K. A Study of the rudiments used in foreign military drumming styles. Percussionist: Volume 2, Nº 1. 1965: Pág. 10-27
11 - WOOTON, John. Dr. Throwdown’s Rudimental Remedies. Nashville, TN: Row-Loff Productions, 2010.
12 - COSTA, Eliseu Moreira. Material Didático e Metodologias não publicadas.
13 - ROSAURO, Ney. Método Completo para Caixa Clara. Brasília: Ed. Pro Percussão Brasil, 1982.